Sinopse: Young-hee é uma
atriz famosa que tem a sua vida pessoal exposta após um caso com um homem
casado. Ela decide abandonar a cidade européia onde mora e dar uma pausa na
carreira. Young-hee reencontra os velhos amigos e começa a refletir sobre suas
possibilidades de futuro. Em noites regadas a álcool, ela se libera e diz o que
realmente sente.
Aos poucos que vou
conhecendo a filmografia de Hong Sang-soo (A Visitante Francesa) percebo que o
cineasta gosta de se repetir, mas não para cair na previsibilidade, mas sim
para alcançar um novo nível com relação ao seu perfeccionismo que ele tanto injeta
em suas obras. Além disso, percebesse que seus pensamentos, sejam eles
inventados ou verídicos, são moldados em seus filmes para que então ele consiga
nos dizer algo que talvez nem ele mesmo consiga dizer para consigo mesmo. Na
Praia à Noite Sozinha testemunhamos um novo degrau com relação aos pensamentos íntimos
do cineasta e dos quais ele tenta exorcizá-los no outro lado da tela.
O filme acompanha a cruzada
da atriz Young Hee (Kim Min-hee, prêmio de melhor atriz no último festival de
Berlim) que, após se envolver com um homem casado, decide retornar as suas raízes. Ao retornar em sua cidade natal, Young reencontra velhos amigos,
alguns deles até mesmo do ramo do cinema e decide então colocar a conversa em
dia com todos. Não demora muito para que ela comece a por para fora tudo o que
sente em meio a uma conversa e com muita bebida.
Usando velhas fórmulas de
seus filmes anteriores, Hong Sang Soo usa do começo ao fim uma única trama, mas
dando a entender que ela é dividida em duas partes, como se fosse encerrar uma e
começando assim outra, mas com a mesma protagonista. No principio da primeira parte da história,
a vemos conversar com uma velha amiga, revelando então um pouco do seu passado
e tentando armar planos para o futuro. Uma vez que essa primeira parte se
encerra, o cineasta nos coloca numa situação de dúvida, já que, com relação ao que foi visto,
pode ser interpretado como uma lembrança, ou até mesmo da própria protagonista
estar assistindo ela mesma dentro de um cinema.
Mesmo com uma simplicidade,
é notório como Hong Sang Soo consegue emoldurar em sua obra camadas sob camadas
dentro da trama, como se estivéssemos testemunhando um sonho dentro de um sonho
e do qual somente se encerra quando o filme acaba. Sejam pensamentos ou sonhos
filmados, o cineasta faz até mesmo questão de criar uma figura solitária, da
qual ninguém dá muita atenção a ela, mas que pode ser o cineasta em cena e que
esteja sonhando ou se lembrando dos eventos dos quais estamos testemunhando: a
cena em que vemos um lavador de janelas trabalhando incessantemente e sem ser
notado sintetiza esse meu pensamento.
Talvez entre obsessão e perfeccionismo,
exista um desejo do cineasta em voltar ao passado e corrigir certos erros dos quais ele havia cometido. Assim como foi visto em Certo Agora, Errado Antes (2015),
há uma passagem do filme, por exemplo, da qual testemunhamos a protagonista deitada
na praia e que, posteriormente, veremos a mesma cena, mas por outra perspectiva. Revisitando a cena, é como se o cineasta queira nos dizer que era assim que
deveria ter sido e não da forma como havia acontecido anteriormente.
Podemos interpretar essa
passagem da trama como uma espécie de simbolismo sobre o arrependimento vindo
de Hong Sang Soo, como se um passado não resolvido o assombrasse e do qual ele
fica tentando amenizar essa dor através de seus filmes. Como se isso não
bastasse, testemunhamos uma sequência reveladora numa mesa de bar, da qual não
só testemunhamos à protagonista desabafar através do álcool, como também um
determinado personagem que joga pra fora as suas dores através da leitura de um
livro. Seria então esse personagem a personificação do próprio cineasta visto
na tela?
Na Praia à Noite Sozinha é
um filme que se divide entre sonhos e pensamentos e dos quais personifica o
lado mais intimo de um cineasta super criativo.
Onde assistir: Cinemateca Capitólio: R. Demétrio Ribeiro, 1085 - Centro Histórico, Porto Alegre. Horário: 20h30min
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